sexta-feira, 3 de agosto de 2012
MUDANÇA DE RUMO
Alguém que se dedique na busca pela verdade certamente chegará a algumas conclusões. Não é possível que anos de leitura, reflexão, pesquisa e investigações não nos levem a lugar algum.
Pois bem, digamos que você seja tal pessoa. Suponhamos que você tenha dedicado toda sua vida, desde o início da adolescência, a buscar a verdade. E imaginemos que agora, depois de tanta informação adquirida, você comece a identificar onde estão as ilusões e falhas, e esteja finalmente conseguindo as respostas que tanto buscava, como se fosse o juntar das peças de um complicado quebra-cabeça. Não seria maravilhoso? Seria, se não fôssemos confrontados com a seguinte questão:
O que fazer quando nossos velhos conceitos estão em rota de colisão com a verdade?
Essa é a pergunta que me tem afligido, a ponto de me tirar o sono. Minha procura pela verdade, que se arrasta por anos e anos de inquirições, finalmente está me conduzindo a encontrar as respostas que eu tanto buscava. O problema é que tais respostas, que são claras e irrefutáveis, não se coadunam com minhas velhas e tão seguras convicções.
O que fazer? Acovardar-me, ou mudar e sofrer as trágicas consequências da incompreensão?
Penso que a direção me chegou por meio de uma pequena e verídica história, que compartilho a seguir:
Durante vários dias, dois navios de guerra entregues ao esquadrão de treinamento estavam realizando manobras sob condições climáticas desfavoráveis. Eu me encontrava prestando serviços no navio de guerra principal, e estava na vigilância na ponte de comando quando caiu a noite. A visibilidade era pouca com a neblina, de modo que o capitão se mantinha na ponte de comando observando todas as atividades.Essa pequena história me fez compreender que não preciso de coragem para mudar. Coragem não me falta. Preciso é de humildade! Humildade para reconhecer que minhas velhas convicções podem estar erradas, mesmo que tenham sido consolidadas por séculos de tradição, ou perpetuadas por dogmas que agora se revelam equivocados, quando expostos pela luz da verdade. Os homens são falhos, tanto agora, quanto há milhares de anos atrás. Somente a verdade é e sempre será imutável. Quando somos confrontados com ela, nós é que precisamos mudar.
Pouco depois de ter escurecido, o sentinela que se encontrava na asa da ponte de comando informou:
— Observa-se uma luz a estibordo.
— Está fixa, ou move-se para a popa? — gritou o capitão.
A sentinela respondeu:
— Fixa, capitão.
Nesse caso, estávamos rumo a uma perigosa colisão contra aquele barco. Então o capitão chamou o encarregado da comunicação por sinais e lhe disse:
— Comunique àquele barco: “Encontramo-nos rumo a uma colisão. Aconselhamos-lhes que mudem seu rumo 20 graus”.
Então recebemos sinais que diziam: “Seria melhor vocês mudarem seu rumo 20 graus”.
O capitão disse:
— Envie-lhe o seguinte: “Eu sou capitão! mude seu rumo 20 graus”.
“Eu sou um marinheiro de segunda classe”, foi a resposta. “É melhor que você mude seu rumo 20 graus”.
A estas alturas, o capitão estava furioso.
— Envie-lhe o seguinte: “Eu sou um navio de guerra. Mude seu rumo 20 graus”.
E então recebemos a breve e clara mensagem: “E eu sou um farol em terra firme”.
Nós mudamos o rumo. (*)
Mas e quanto às trágicas consequências de uma mudança de rumo? Nossa mudança poderá nos custar a rejeição da família, a incompreensão dos amigos, a exclusão de círculos sociais...
Não ignoro nada disso. Sei que existe um alto preço a se pagar pela verdade. Mas estou convencido de que todas as consequências serão ínfimas se nos lembrarmos de que não há desgraça maior que a traição da própria consciência. Essa sim é a pior das tragédias, o suicídio da alma.
Alan Capriles
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* História verídica, relatada por Frank Koch, em Proceedings (a revista do Instituto Naval dos Estados Unidos) e encontrada no e-book "O Reino que Alvoroçou o Mundo".
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