Por Alan Capriles
A chamada parábola do semeador é uma das mais conhecidas parábolas ensinadas por Jesus. Seu correto entendimento é tão importante, que sua explicação consta de todo os evangelhos sinóticos.
Mas, a despeito de sua explicação aparentemente clara, penso que algo muito importante esteja faltando no entendimento correto da explicação dada pelo Senhor. Trata-se da responsabilidade do pregador, ou seja, daquele que semeia a palavra.
Digo isso porque a parábola do semeador é quase sempre explicada sob o ponto de vista dos solos e não de quem semeia. Aliás, alguns crêem tanto nisso, que preferem chamá-la de “parábola dos solos”. Segundo esses teólogos, a culpa da semente não dar fruto seria exclusivamente do solo na qual ela caiu, ou seja, do coração na qual a palavra foi semeada. Nenhuma culpa teria o pregador se a palavra não der frutos, mas tão somente seus ouvintes.
Pois bem, discordo dessa interpretação. Mas antes de explicar minhas razões, preciso reconhecer que durante anos também pensei como a maioria, tirando qualquer culpa do pregador quanto ao resultado de sua mensagem. O que me fez despertar para o correto entendimento dessa parábola foi uma palavra-chave, que consta da explicação dada pelo Senhor segundo o evangelho de Mateus.
A palavra-chave é o verbo “compreender” que aparece no início e no final da explicação dada por Jesus. Segue o texto, com essa palavra em destaque:
Mateus 13:18-23
18 Atendei vós, pois, à parábola do semeador.
19 A todos os que ouvem a palavra do reino e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho.
20 O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria;
21 mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza.
22 O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera.
23 Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende; este frutifica e produz a cem, a sessenta e a trinta por um.
Perceba que a explicação começa se referindo àqueles que não compreendem a palavra e termina com os que a compreendem. Desta forma, podemos concluir que entre um e outro estão aqueles que “compreenderam mal” a boa nova do reino.
A fim de que isso fique bem esclarecido, estarei analisando a seguir essa mesma passagem, comentando [entre colchetes] cada tipo de solo onde o semeador lançou a semente. Lembre-se que o foco dessa parábola é o semeador, ou seja, aquele que semeia a palavra. Prova disso é que o próprio Jesus, ao iniciar sua explicação, chamou-a de parábola do semeador.
Mateus 13:18-23
18 Atendei vós, pois, à parábola do semeador.
19 A todos os que ouvem a palavra do reino e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho.
[Não a compreendem por quê? Porque, na maioria das vezes, o semeador (pregador) não explicou a palavra. E é um fato lamentável que seja cada vez menor o número de pregadores que exponham com fidelidade a palavra de Deus. Ora, se nem o pregador sabe o que é o evangelho, como esperar que seus ouvintes o compreendam?]
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20 O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria;
[Por que esse ouvinte recebeu logo a palavra e com alegria? Ora, porque ele compreendeu mal a palavra. E a culpa, mais uma vez, é do pregador, que não lhe alertou sobre as provações que necessitam passar os que se convertem a Cristo. A fim de conseguir um número maior de decisões, esse tipo de evangelista encobre o fato de que seguir a Cristo implica em se carregar uma cruz. Por essa mesma razão é que esse ouvinte recebeu “logo” a palavra, porque o pregador lhe pressionou a tomar uma decisão emocional e não a considerar os custos de seguir a Cristo. São apelos assim, superficiais, que são realizados hoje em dia, feito por pregadores mais preocupados com números do que com a genuína conversão de vidas. Mas o próprio Jesus sempre testava a decisão dos que queriam segui-lo. Sendo assim, devemos desconfiar da veracidade da conversão daqueles que alegremente recebem a Cristo, sem lágrima nos olhos, como se o Caminho da verdade fosse um passeio no parque]
21 mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza.
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22 O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera.
[Como isso foi acontecer? Ou melhor, devemos nos perguntar: por que esse ouvinte continuou entretido com o mundo e fascinado com as riquezas, mesmo se dizendo cristão? Sem dúvida, porque o pregador não lhe explicou que seguir a Cristo significa renunciar a si mesmo. Antes, pelo contrário, prometeu-lhe uma vida de prosperidade, como se fosse possível amar a Deus e continuar amando ao dinheiro, ou ser amigo de Deus e do mundo ao mesmo tempo. São pregadores que misturam a verdade com a mentira, criando expectativas mundanas em seus ouvintes. Atualmente existem igrejas cheias desse tipo de pseudo-cristão, que busca a Deus por interesse, pelo ter e não pelo ter, gente que nunca chega a se converter completamente. Mas estão lá, dizendo ser da igreja. Aliás, prega-se prosperidade com esse fim: encher a igreja, ainda que seja de bodes e não de ovelhas]
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23 Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende; este frutifica e produz a cem, a sessenta e a trinta por um.
[Por que esse ouvinte frutificou? Porque compreendeu a palavra. E por que ele a compreendeu? Ora, porque o pregador demonstrou verdadeiro amor por ele, tendo a paciência de lhe explicar bem a palavra do reino, que é o evangelho da salvação. Salvação, não apenas do inferno pós-morte, mas de sermos um diabo nesta vida. E reino, não apenas como evento futuro, pós-apocalíptico, mas um estado presente de ser uma nova criatura em Cristo, que significa viver sob o seu reinado, dando frutos de santidade e de boas obras, em amor e para a glória de Deus.]
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Conclusão
Como se percebe, Jesus não estava equivocado ao intitular este ensino de Parábola do Semeador. A semente é boa - aliás, excelente - o problema está, antes de tudo, no despreparo de quem semeia.
Alan Capriles
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